Caboclos

Abençoado seja meu caboclo de Aruanda. Fazei de mim um instrumento de vosso trabalho; que eu seja o vosso arco e a vossa flecha. Em momentos de tensão, quando a corda se esticar e o arco se curvar, que eu nunca me rompa. Ensina-me a não sucumbir diante das adversidades da vida. Hoje, o céu está tempestuoso e o ar, congelante, mas o amanhã virá, trazendo dias de sol e calor, meu caboclo.

Afasta-me do confronto com meus inimigos, mas, se o choque for inevitável, que eu tenha força e coragem para lutar sempre. Afaste o medo da derrota, pois sempre há a possibilidade de um novo recomeço. Ensina-me a arte da paciência, pois às vezes é necessário esperar um dia inteiro até que a caça caia na armadilha. Ensina-me a linguagem mágica das plantas, para que eu possa conhecer os mistérios da vida.

Vossa nudez é libertadora; ajuda-me a andar nu, pois muitas vezes me visto para não refletir minha verdadeira natureza. Meus pés descalços na terra, ligando-me ao Grande Deus Tupã. Faça de mim uma flecha de luz, lançando-me onde a escuridão imperar. Se eu ficar cansado, recostarei no tronco da Jurema e adormecerei, coberto pelas folhas, ouvindo o canto dos pássaros anunciando o fim de mais um dia. O som da cachoeira embalará meus sonhos e meu desejo de ser, a cada dia, um médium melhor e mais capacitado para minha missão espiritual.

Quando chegar a hora da minha passagem, amarre minha alma na ponta de sua flecha, suba na mais alta montanha, estique a corda ao máximo e lance-me rumo ao infinito.

Salve Caboclo Flecheiro das Matas Virgens!

Caboclo Flecheiro das Matas Virgens

Há uma história sobre o Caboclo Flecheiro das Matas Virgens e Pai Francisco da Guiné, relacionada ao ritual de passagem. O guia leva o filho (médium) para a floresta, coloca uma venda nos olhos e o deixa lá, sozinho. O médium deve permanecer sentado em um toco a noite toda, sem remover a venda dos olhos até que os raios do sol anunciem a manhã. Ele não pode gritar, chamar ou pedir ajuda a ninguém. Se ele sobreviver à noite, sem desmoronar, tornará-se um médium perfeito, apto a trabalhar na Tenda de Umbanda Luz Serena ou Ilê Axé Luz de Odara.

Sob juramento, não poderá contar sua experiência a amigos ou a ninguém do terreiro, pois cada médium deve se tornar seguro de sua mediunidade, enfrentando seu próprio medo e pavor do desconhecido sozinho. Durante a noite, o médium, aterrorizado, ouve barulhos estranhos ao seu redor, pensando em seu interior que existem feras ferozes, Kiumbas (espíritos trevosos), à sua volta. Ele teme até homens perigosos que podem machucá-lo a qualquer momento, representando aqueles intolerantes e discriminadores.

O vento forte balança as árvores, mas ele continua corajosamente, sem tirar a venda dos olhos. Afinal, essa é a única maneira de se tornar um excelente médium. Após uma noite terrível e assustadora, o sol nasce e ele remove a venda. Nesse momento, percebe que o pai (guia) estava sentado no toco ao seu lado, guardando-o durante toda a noite, protegendo-o de qualquer perigo, mesmo sem que o filho percebesse.

Nós também nunca estaremos sozinhos. Nas noites ou momentos mais assustadores de nossas vidas como médiuns, mesmo no escuro mais profundo e na solidão mais completa, os Guias e Orixás nunca nos abandonam e sempre nos guardam, sentados ao nosso lado.

É dessa forma que dou o melhor de mim a cada um de vocês. Jamais deixarei de protegê-los diante das adversidades do dia a dia. Assim somos nós, médiuns, sacerdotes e sacerdotisas do Ilê Axé Luz de Odara de Jacareí/SP.

Baba Ifá Toki